As Crianças adormecidas

“Les enfants endormis” (2022) de Anthony Passeron é uma leitura intensa pelo modo como mistura o impacto da SIDA no seio de uma família enquanto dá conta dos passos dados para a descoberta da doença, no início dos anos 1980. Passeron apresenta as suas memórias sobre o efeito devastador da doença no seu tio, tia e prima, os primeiros contaminados por seringas de heroína, a última por transmissão materno-fetal. Ao mesmo tempo ficamos a conhecer os trabalhos de Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier, entre 1982 e 1984, e as tentativas para derrubar o mesmo por parte de Robert Gallo que seriam levadas a tribunal pelo Instituto Pasteur e depois vingadas, em 2008, pela atribuição do Nobel a Montaignier e Sinoussi.

Para todos aqueles que viveram os anos 1980 é difícil não recordar o impacto estrondoso que o surgimento do vírus teve no nosso olhar sobre a sexualidade, mas também sobre a empatia para com o outro. Em 1989 o filme “Longtime Companion” abriria a discussão, mas seria o ano de 1993 a marcar de vez o impacto da doença com dois filmes, “Silverlake Life: The View from Here” e “Philadelphia”. No primeiro, menos distribuído, mas vencedor de inúmeros prémios, temos um diário gravado em vídeo pelo casal Peter Friedman e Tom Joslin em que podemos ver como o avançar da doença consome o corpo até à sua extinção. No segundo, de Jonathan Demme, temos Tom Hanks a dar corpo à expressão daquilo que milhares de pessoas tiveram de experienciar em toda a Europa e EUA, a recusa e ostracização, primeiro da comunidade homossexual e depois de todos aqueles que apresentavam traços da doença.

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