Da Civilização Europeia

“The West” (2023) é um livro da arqueóloga Naoíse Mac Sweeney que pretende atacar a ideia de que existe uma civilização europeia nascida dos escombros da Antiga Grécia e Antiga Roma e que se espalhou depois pelo continente americano. O ataque começa pelo facto da Grécia não ter sido um estado uno, e ter defendido ideias completamente incompatíveis com as de uma Roma Imperial. Fala-se na ideia de que a Grécia e Roma não surgiram sozinhas, estiveram conectadas à Ásia e África, sem o que não se teriam afirmado.

Nada disto é contradito por qualquer académico na definição de uma cultura europeia. Mais, a academia não define o nascimento desta civilização na Grécia ou Roma, mas antes na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, na região do Médio-oriente, profundamente influenciada por tudo o que lhe chegou de África, nomeadamente Egipto, e da Ásia. O Helenismo nunca teria existido sem a Babilónia. Contudo, a academia também diz ser inegável que o pensamento científico, despegado de misticismos foi criado na Antiga Grécia. E diz mais, diz que Roma foi a primeira, e talvez única, potência a colonizar para fazer da cultura dos colonizados a sua própria cultura. Os professores de Roma eram escravos gregos, assim como a principais obras de ideias e entretenimento, provieram da Grécia. Por isso, negar a relevância da Grécia na nossa civilização é desprovido de senso.

Por outro lado, a academia não nega que a cultura europeia está impregnada de cultura africana, chinesa assim como americana. De Cleópatra a Marco Polo, mas também de Atahualpa a Teotihuacan, é inegável que a Europa se fez de tudo aquilo com que contactou, sempre. Mas nada disso invalida que a Europa tenha definido os seus próprios métodos e abordagens. O contacto e a troca de experiências é fundamental para o crescimento de qualquer civilização, mas tal não impede a mesma de se definir nas suas particularidades. Mas mais importante do que isso, e ao contrário do que se parece aqui querer dizer, todas as civilizações precisam de uma História, sem o que não possuem Identidade. Ora as histórias apresentarem a perspetiva de quem a conta é o expectável, sem o que quem recebe as histórias não se consegue identificar com as mesmas. Isto é tanto verdade para a Europa, como China, Rússia, América ou qualquer outra região povoada por seres humanos. Não existimos sem histórias.

A juntar a tudo isto, temos um discurso pejado de assuntos atuais sem qualquer relevância para o que está aqui em discussão, a começar pelas constantes referências a grupos de extrema-direita ou a defensores de Trump. Tudo isto acaba tornando o discurso ligeiro, mais preocupado em defender uma ideia e menos interessado em realmente compreender a história dos últimos quatro mil anos. A ligeireza da abordagem chega ao ponto de no capítulo sobre Francis Bacon, para definir as suas competências de polímata, evocar como exemplo Arnold Schwarzenegger, fiquei com receio que a seguir evocasse também Trump.

Mas talvez o pior seja a estrutura, feita como um compêndio de biografias que tornam a obra desconjuntada. Não se apresenta uma argumentação sustentada de suporte ao que se pretende afirmar, mas antes um conjunto de pessoas que atravessaram a história e dão conta de eventos pontuais que servem a causa da autora. Se esta decisão já era complicada, referir que a escolha destas pessoas não tem uma base argumentativa, mas que foi feita com base nas “experiências e interesses pessoais” da autora, deita por terra qualquer suporte académico a esta visão histórica .

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