Mercadores de Gelo

A história de “Ice Merchants” (2022) parece surgida de um daqueles típicos devaneios “e se” ou “como é que faziam naquele tempo”, criando um espaço propício à fábula. Não sendo verosímel, atira-nos para a fantasia e obriga-nos a desconsiderar o regular funcionamento da realidade. O universo narrativo envolve-nos e transporta-nos para o centro do sentir das personagens, produzindo uma forte conexão emocional com os mesmos. E no entanto, tudo isto só acontece pela força da arte audiovisual que suporta todo o contar da história.

Na arte audiovisual, criada por João Gonzalez, é difícil salientar algo, já que todas as frentes — cinematografia (imagem, desenho, composição, movimento), montagem (corte, encadeamento visual, justaposição semântica) e som (score e design) — apresentam um nível elevadíssimo de acuidade. O trabalho formal foi tremendamente depurado, tudo está no sítio certo, no momento certo, é difícil não nos deslumbrarmos com a sucessão de opções estéticas perfeitas e coerentes. Ainda assim arrisco a destacar a ilustração e a montagem. O traço, a cor e a textura oferecem-nos um mundo particular que nos envolve e faz crer estar numa realidade alternativa. A montagem cria a dimensão tempo, injetando vida na ilustração, garantindo credibilidade à realidade apresentada.

Difícil entender como apesar da nomeação, não conseguiu o Óscar de melhor Curta de Animação 2023.

Disponível para ver no FilmIn e no HBO.

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